Ortopedista e radiografia convivem harmoniosamente desde a invenção desta . Ultimamente , após o advento da ressonância magnética e da tomografia computadorizada , principalmente nos grandes centros , a radiografia tem perdido um pouco do seu importante espaço , sendo deixada de lado ou em segundo plano .
Não há dúvida que em casos selecionados , em que há uma suspeita de lesão de tecidos moles ( músculos , tendões , ligamentos ) ou lesões osteocartilaginosas , a utilização de métodos complementares de imagem ajudam muito o médico no diagnóstico e no planejamento terapêutico . Cabe ao médico saber usar estas ferramentas de forma parcimoniosa , otimizando o tempo do paciente e os recursos do sistema de saúde , sem prejuízo para o paciente.
Abaixo mostro uma radiografia digital de uma paciente que me procurou com queixa de dor e limitação de movimento no ombro direito . Já havia passado com um outro colega e trazia uma ressonância magnética que mostrava artrose do ombro direito e um corpo livre articular . Queria uma segunda opinião acerca de uma cirurgia para retirada deste corpo livre. Até como forma de esclarecimento para a paciente , solicitei uma radiografia dos dois ombros, que mostro abaixo . Com uma caneta digital e um programa no computador , consegui destacar alguns pontos importantes .
Para quem conhece anatomia e sabe interpretar o raio-X , inúmeras são as informações que um exame simples e bem realizado como este pode trazer . Abaixo faço algumas considerações :
- o corpo livre articular ( parece um “amendoim ” ) , presente no ombro direito , de cerca de 2 cm , está no recesso axilar , dentro da articulação e seria muito difícil de retirá-lo através de uma cirurgia artroscópica ;
- o espaço entre a cabeça do úmero e a glenóide ( espaço articular ) visivelmente está diminuído do lado direito , em que observamos um “toque” , um atrito , entre um osso e outro . Isso caracteriza a artrose e traz implícita a idéia de desgaste da cartilagem ( ” capinha ” do osso, invisível no raiox ) . Uma análise mais minuciosa mostra um osteófito ( “biquinho” de osso na cabeça umeral na sua parte mais inferior ) ;
- o espaço entre a cabeça do úmero e o ” teto do ombro ” , formado pela clavícula e o acrômio , mantém-se preservado bilateralmente , o que sugere que os tendões que passam por este espaço estão preservados .
Colocados estes pontos acerca deste exame , juntamente com uma conversa com o paciente e com um exame físico simples , pudemos esclarecer o diagnóstico de forma precisa e também traçar um plano de tratamento eficaz .