A ortopedia e a traumatologia evoluíram muito nos últimos 20 anos , em parte devido ao surgimento e desenvolvimento de diferentes tipos de implantes . As próteses de ombro , de joelho e quadril se modernizaram tanto no design quanto na sua composição , permitindo um resultado melhor e uma durabilidade maior . Os diversos tipos de placas e hastes usadas nas fraturas também tiveram uma evolução formidável. Mas , na minha opinião , um dispositivo relativamente recente merece um destaque especial e é sobre ele que eu vou falar hoje : âncoras .
As âncoras permitem a fixação de tecidos moles ( ligamentos , tendões , cápsulas ) ao osso , permitindo a reparação de diversos tipos de lesões , sejam elas traumáticas ou degenerativas . Basicamente , numa âncora , temos duas partes : a parte que ficará ancorada e fixa dentro do osso e que se parece normalmente com um parafuso e a outra parte que é um fio que servirá para prender o tecido solto ou um enxerto ao osso. São muito utilizadas em cirurgias do ombro , mas também podem ser utilizadas em outros locais como o cotovelo , o tornozelo , o quadril , a mão e o joelho . Para melhor entendimento de como utilizamos uma âncora , mostro o vídeo abaixo , que mostra como um tendão roto no ombro foi fixado ao osso por uma âncora:
Os fios presentes nas âncoras utilizados atualmente são extremamente resistentes e tem nomes comerciais variados : Fiberwire , Orthocord , Maxbraid , etc . De tão resistentes , temos até dificuldade para cortá-los com as tesouras cirúrgicas e usamos nas artroscopias cortadores especiais bem afiados.
Já as âncoras propriamente ditas podem ser metálicas ou não-metálicas . As primeiras desenvolvidas foram as metálicas e biomecanicamente falando são muito eficazes , garantindo uma fixação extremamente forte no osso. As desvantagens das âncoras metálicas são :
– quando usados próximas à articulação , como numa cirurgia de luxação do ombro , podem migrar ou ter parte dela exposta para dentro da articulação , causando grave dano à cartilagem articular ;
– em exames subsequentes porventura necessários , como uma ressonância magnética ,podem distorcer a imagem , dificultando um diagnóstico mais preciso ;
– em reoperações podem dificultar o novo procedimento .
As âncoras nao-metálicas são feitas em sua maioria de um derivado do ácido polilático , chamado ácido poli-L-láctico (PLLA) .Parece um ” plástico ” . Estas são absorvíveis no médio prazo . Recentemente um novo polímero chamado PEEK tem entrado na composição das âncoras , sendo um ” plástico inabsorvível “.
Uma última opção , ainda não disponível para o ortopedista aqui no Brasil , é uma ” âncora ” composta somente de um fio de poliester extremamente resistente, como mostram a figura e o vídeo abaixo .