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As dores nos joelhos e a prática da corrida

Hoje  atendi um paciente de 47 anos, homem , com dores recorrentes no joelho, durante a prática de corrida. Em média,  corria três a quatro vezes por semana, na rua e também na esteira, de oito a doze km por corrida.  As dores já aconteciam há cerca de três anos, eram de leve intensidade, mais durante a corrida e apareciam mais quando ele aumentava um pouco o ritmo ou quando corria uma prova mais longa, como uma meia maratona.

Praticava também musculação e utilizava tênis adequados para o esporte. Ultimamente estava um pouco acima do peso , cerca de 3 kg, pecado atribuído às  férias que passou na casa da mãe.

Já tinha passado em outros médicos, feitos exames como ressonância, sem mostrar lesões importantes como ruptura do menisco ou desgaste da cartilagem. O exame físico era normal , sem deformidades , sem sinais sugestivos de algo mais sério . Foi tratado como ” tendinite do corredor ” , realizando fisioterapia e um pouco de repouso, com melhora  do quadro.

Também segui este raciocínio de sobrecarga dos outros colegas, orientei ajustar a dose de corrida ( diminuindo um pouco a frequência e a distância  ) , orientei fazer uma dieta e perder o peso que tinha a mais e também recomendei a prática de pilates. Tenho certeza que seguindo estes passos vai melhorar.

Descrevi este quadro porque é um quadro bastante comum com que deparamos nos últimos  anos nos consultórios ortopédicos. A corrida se popularizou muito e nos grandes centros as provas de 5 , 10 km e  outras distâncias atraem multidões. O prazer que a corrida proporciona ao final do esforço, a perda de peso que ela gera, a melhora da auto estima alcançada pelo corredor, entre outros benefícios à  saúde que o esporte traz , a vontade em superar os limites, um ou mais de um destes elementos muitas vezes conduz alguns a exagerar na dose, correndo mais do que o corpo aguenta. E é este excesso que pode levar a quadros mais simples como o descrito acima ou quadros mais complicados que também vamos com frequência.

Entre os problemas de joelho que encontramos nos corredores , poderia citar :

tendinite patelar ;

síndrome da banda íleo tibial ;

condromalácea patelar ;

artrose do joelho ;

– sinovite ;

lesões dos meniscos ;

– fratura de stress ;

– tendinite do quadríceps .

Cada um destes diagnósticos acima pode ser feito pela história , exame físico e eventualmente algum exame complementar .

Em relação ao tratamento , vai depender também do diagnóstico .

Normalmente é necessário um medicamento , um tempo de repouso , um período de fisioterapia e até uma cirurgia pode ser necessária dependendo do caso  .

Mas o que eu gosto de salientar em relação a esta atividade é que para cada paciente existe um ponto de equilíbrio , ou seja , um limite individual que deve ser respeitado . Gosto de ponderar que algumas pessoas tem uma maior reserva , seja ela de condicionamento cardiorespiratório ou de reserva ortopédica ( estrutural ) . Sem dúvida que ela pode ser modelada e aumentada , mas mesmo assim existe um limite . E pergunto , qual o limite de cada um ? Eu não consigo definir isto . O corredor tem que ter um pouco de bom senso , esquecer o que o seu amigo ao lado consegue de resultados . Tem que sentir o seu corpo e respeitar algum desconforto que pode com o tempo progredir para a dor . Um paciente obeso , de mais de 100 kg , pode ter fôlego para correr 5 , 10 km ou 1 hora ou mais , mas questiono se o seu joelho vai aguentar esta repetição por alguns meses . Questiono também corridas acima de 10 km para as  ” pessoas comuns ” . Não sou favorável a distâncias muito longas  , acredito que os prejuízos potenciais superam os benefícios . Assim , procuro descrever estes aspectos para que cada um posso encontrar o seu ponto de equilíbrio , em que possa de maneira saudável fazer um exercício por muito tempo.

Tendinite patelar ou joelho do saltador

A tendinite patelar, também conhecida por joelho do saltador ( jumper’s knee ) , é uma inflamação que acomete o tendão patelar , sendo este parte do mecanismo extensor do joelho. Caracteriza-se por um quadro doloroso na parte anterior do joelho.

Algumas atividades , como futebol, basquete e vôlei exercem uma tensão muito grande no tendão , o qual acaba por sofrer microroturas . Se estas atividades forem realizadas em excesso , sem um tempo suficiente para o corpo poder “cicatrizar” aquelas microroturas , um processo inflamatório se instala . Inicialmente a dor poderá aparecer apenas após os exercícios ; se não houver um tratamento adequado a dor se tornará mais intensa e limitará as atividades normais,podendo progredir inclusive para uma rotura do tendão patelar.

O tratamento inicial consistirá de medidas como remédios anti-inflamatórios , gelo e fisioterapia. A fisioterapia tem um papel muito importante e consiste basicamente de um programa de fortalecimento e alongamento da musculatura anterior e posterior da coxa e da perna. Um período de repouso pode ser necessário e às vezes algum tipo de “joelheira” poderá ser útil ,como a tira sub-patelar mostrada abaixo.

Nos casos em que o tratamento conservador não surtir efeito e naqueles caso em que houver uma ruptura do tendão , o tratamento cirúrgico será necessário.